quarta-feira, 12 de junho de 2013

Inefável

Pouco cabe-me saber o que está por vir, ou quase nada. Caso soubesse, tampouco poderia fazer algo. Não me foi atribuída a capacidade de controlar o sorriso, nem os olhos fixos, menos ainda as mãos... Não estaria tão certa mesmo diante de tanta incerteza, se pudesse eu interferir.
No entanto, pouco reclamo dos ocorridos e ainda atrevo-me a sonhar. Meto-me a deliciar com o acaso; com o acaso do que há de vir, com o acaso do que já se foi. Cada detalhe parece fazer infinita diferença, a ânsia omitida - porém mais que óbvia - de se estar perto, as conversas silenciosas dos olhos, o desejo descontrolado dos sorrisos vir à tona, assim como não conseguiria dizer como meus olhos conseguiam ver tão bem mesmo sem luz nenhuma... tantos são que não me atreveria em descrevê-los. Não por serem muitos, mas pela minha pouca capacidade de ser fiel às sensações com as palavras. Talvez isso explique
tanto silêncio, tanta necessidade de toque e as primícias dos dedos entrelaçados de tanto tempo atrás - que até então pouco sentido tinha -, porque só o estar perto basta.
Mas minha mente, essa sim, todas as noites descreve-me tudo o que faz falta. Enche o travesseiro de suas esperanças, de suas saudades (dos braços confundindo-se, que me mantinham perto, do peito que me era como o melhor aconchego, dos beijos inesperados); do mais clichê ao completamente fora dos padrões, do mais fácil ao mais complicado possível, do que faz rir mas dói de chorar. Tudo num só.
Não bastariam essas, nem todas as outras palavras, se não o fizessem rir. Muito menos se essas o tornassem mais distante. Por esse motivo que agora o silêncio é cortante, porque são as palavras que nos fazem perto.
E, se me lembra você, até a areia da praia me faz sorrir (ainda que com uma dor no peito). Assim como todas as músicas.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Caos

Se torna óbvio dizer que mudamos. Fisica, emocional, psicologica, intelectual e espiritualmente e todos os outros advérbios cabíveis. Torna-se óbvio e completamente desnecessário reafirmar isso. No entanto, qual o protocolo a se seguir quando isso nos vem tão brutalmente? Mesmo quando se anseia muito, quando nos vemos diante da mudança sem aviso prévio, o difícil é conseguir pensar bem.
Como se tivesse uma linha de divisão, de tempo e espaço, onde tudo antes não faz o menor sentido - parece até um pouco cômodo, mas pra onde você não quer voltar - e diante de tudo que você sempre quis, mesmo sem saber. É como abrir a porta sorrindo para a confusão e se entregar à teoria do caos.
Mas o que fazer quando se espera desesperadamente sair da sua zona de conforto e esta não te é mais tão confortável assim?

"E se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria?"

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ah, Efraim...


(...) Esqueci que na tua frente eu não posso. Na tua frente eu não posso, mas escondido eu posso? Ó, na sua frente eu não posso, mas escondido eu posso. Mó cabeça idiota a minha... quando eu era menor eu já fumava, ta ligado?! Era mó legal, fumava mesmo, mas nunca ninguém descobriu, sabe?! Ai os irmãos iam lá, e quando acabava oração eu pegava um chiclete, pra tirar o cheiro da boca, ai eu apagava o cigarro e nunca ninguém descobriu. Nunca ninguém viu.
Eu sempre fumei escondido, até que um dia eu olhei pro céu, vi que eu tava escondendo de todo mundo, mas eu não conseguia esconder de Deus, cara. Deus tava me vendo, cara. Porque a Bíblia diz né?! "Nada fica encoberto diante dos olhos dele". Deus tava me vendo o tempo todo mano, mó cabeça burra a minha. Mó cabeça burra a sua! Ôh, qual a diferença, qual a diferença de eu acender o cigarro aqui no altar da igreja, e pegar você e a sua namorada e colocar aqui na frente e fazer aquilo que você faz escondido com ela? Qual a diferença? Sabe qual é a diferença? É que isso aqui tem cheiro, todo mundo sente, mas o seu pecado você faz escondido, essa é a diferença.
Já pensou se seu pastor sentar do teu lado de madrugada e ver você vendo um site pornográfico na internet? "Nossa, pastor nem acredito que você ta me vendo, que vergonha pastor, nossa, vou até me ajoelhar pra pedir perdão, pastor, você viu, não era pra você ver não, que vergonha". Você tem vergonha do homem, cara, mas você não ta nem ai pra Deus, cara. Nada a ver com o evangelho, né? Nada a ver com a graça de Cristo. Que que adianta, velho, você esconder do homem? Que que adianta você ter vergonha da pessoa que ta sentada do seu lado ai agora? Porque já pensou se essa pessoa descobrir quem você é de verdade, meu!? "Nossa, eu não vou nem voltar na igreja, ninguém pode saber quem eu sou". Deus sabe, cara.
Se você estiver no mais profundo abismo, alí Deus estará, cara. Se você montar sua cama no meio do fogo, alí Deus estará, mano. Você pode esconder de quem você quiser, mas Ele sonda sua mente e seu coração. Deus sabe! Isso que tem escondido na sua bolsa. Deus sabe! Ele sabe de tudo: o que você fez ontem, o que você vai fazer daqui a pouco. Ele vai estar por perto. Ele conhece... Nada haver com o evangelho né, mano? Mas você prefere continuar pecando escondido. Por que o segredo é esse, né, mano? O lance é não escandalizar. É saber pecar direitinho, né? Aí não tem problema, né?
(...)
Igualzinho a você, né, mano? Tem gente aqui que tá desse jeito. Você prefere sua morte espiritual do que mostrar pra alguém que você tem deformidades, né? Você prefere ficar morto espiritualmente do que mostrar pra alguém que precisa de ajuda, né? Mano, você tá vendo a glória de Deus se manifestar na pessoa do teu lado, mas prefere continuar seco espiritualmente do que mostrar pra alguém que você tem ferida, né? Tem lepra.
E por falar em lepra, eu me lembrei de Naamã. Sabe quem era Naamã? Naamã era o chefe do exército da Síria. O cara era 'mó' chefão, mano. O cara andava na rua todo imponente, com roupa de chefe, né. Mas quando chegava em casa, tava cheio de lepra. Mas ninguém sabia, né? Aí uma menina falou assim pra ele: você quer ficar curado? Vai lá, tem um profeta aí. Aí ele: manda chamar. Aí o profeta não foi, mas mandou um recado, óh, manda falar pro seu chefe assim: se ele quiser ficar curado, vai lá no rio Jordão e mergulha sete vezes, você vai ficar curado. Ele vai ver. Aí bateu maior orgulho no coração dele. Ele falou: não! Não é assim, não! Vou mergulhar lá na minha cidade porque lá os rios são melhores.
Maior orgulho, né, cara? Aí depois caiu a ficha dele, ele falou: não, eu vou. Vou mergulhar, vou me humilhar aqui. Foi lá, mergulhou sete vezes. Quando levantou, tava curado, limpinho. Mas tem um monte de gente aqui mano, que tá vivendo a fase do orgulho de Naamã. Até parece que você vai mergulhar aqui hoje! Nem pensar! Até parece que você vai arrancar sua máscara aqui, imagina! Você tem um monte de amigo aqui, tem um monte de gente que te conhece. E parece que você vai mergulhar, vai nada! Você prefere continuar morto espiritualmente.
(...)
Você é um ventre seco, uma árvore infrutífera, não consegue gerar nada. Mas beleza, beleza, eu te entendo! Eu te perdôo! Eu sei que você tem muitos afazeres: seu trabalho, sua família, sua faculdade. Eu sei que sua prioridade hoje não é salvar a vida de ninguém. Eu te entendo! Eu te perdôo! Ei, já que você não teve tempo pra me evangelizar, dê pelo menos adeus pra mais um dos milhares de jovens que morreram sem ouvir sobre Jesus da sua boca.

Trechos de falas do personagem Efraim, da peça Surpresa na TV (que eu tive o prazer de fazer uma adaptação), da companhia de Teatro Jeová Nissi.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Aleatório

Esquecera-se dos seus próprios conselhos. Ficaram em branco as folhas em que escrevera suas próprias palavras. Não encontrou as coisas que cultivou. As raízes foram arrancadas. Nada era recíproco. Nada.

Mas agora, depois de tanta melancolia, o choro se fez riso. E riso bobo, só por se lembrar. Lançam-se novas sementes. A folhas podem começar a serem reutilizadas. Nunca soubera onde levaria suas decisões friamente calculadas. Vivera sempre como joga um jogo de xadrez: prevendo cada movimento, tudo sob controle, sacrificando e salvando algumas peças...

Deixara pra trás suas estratégias de coisas incalculáveis e imprevisíveis; sonhava, apenas. De fechar os olhos e respirar fundo. Do resto, fazia questão de deixar tudo em ordem, mesmo quando nada estava. E do que podia, fazia questão de cuidar pra que fosse como tanto desejava. Para fazer sorrir. Pra mudar.

Várias páginas já haviam sido reescritas. E mesmo que não acreditasse nessas coisas, fez aqueles pedidos, de olhos fechados, sorrindo... boa parte deles já haviam sido realizados.

Pode ser somente um história, ou várias. Minha, sua ou dele. Ou as nossas, misturadas.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Look at the stars

E se era pra eu ter um ano completamente diferente do anterior, os primeiros dias já haviam cumprindo seu dever: virando minha vida de cabeça pra baixo a ponto de me fazer tentar distinguir ilusão e realidade sempre que abro os olhos. Eu simplesmente não sei como vim parar aqui.
Até os caminhos que escolhíamos entre as pedras eram diferentes. Chegávamos perto, mas nossos caminhos nunca se cruzavam. Então como você veio cair aqui, exatamente em cima de mim? E como você conseguiu fazer essa bagunça toda em uma só semana? Como tive sua ausência toda minha vida e agora ela me é cortante?
Abrir os olhos e ver os seus, pontos de luz no escuro, me fitando dava-me a certeza que estaria tudo bem. Mas que nada seria normal.
Que eu possa deitar sobre o teu peito e ouvir você sussurrar qualquer música boba que se encaixe perfeitamente em nós, que possamos rir novamente feito criança. Ficar horas desenhando seu rosto com meus olhos e lábios.
Esquecer da dor que tive que abafar quando depois de tudo que me disse eu tive que ouvir, nos seus braços, sua voz pela ultima vez.
"Tchau, coisa feia"

Que tudo não tenha sido só um sonho.

But I will still tell you one thing
We're better together