terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Reiteração

Não, eu não deveria estar escrevendo, não a essa hora da madrugada, mas essa dor não me deixa escolha. Eu não poderia estar me importando tanto. Eu também não deveria olhar todos os contatos da minha agenda esperando encontrar algum pra quem eu possa ligar a essa hora. Eu também não deveria imaginar os sorrisos, os abraços, as conversas. Eu não deveria criar momentos em mim mesma, nem questionar ausência. Eu não poderia estar querendo abraços de pessoas que sequer lembram-se de mim. Eu não poderia me arrepender do que tinha certeza. Não deveria desprezar o abraço dos que realmente estão aqui, dos que viriam correndo caso eu precisasse. Eu deveria saber encontrá-los. Eu não deveria estar chorando. Eu não poderia ter tantas incertezas. Não deveria me sentir tão só.
Mas essa dor não me deixa dormir.
Mas essa incerteza não me deixa em paz.

Eu não deveria escrever na primeira pessoa.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram
Machado de Assis 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Pedro

Sabe quando algo ou algum lugar te faz vir a tona lembranças de certos momentos ou pessoas...? Talvez o cheiro de praia, da brisa do mar, o balançar das ondas, o barulho que fazem contra o barco, o cheiro de peixe, pescar... e quem sabe lá, onde dois amigos estiveram tantas vezes, pudessem se rever. Talvez ele reaparecesse mesmo depois de tê-lo negado, talvez aparecesse novamente sobre as águas... Talvez você pudesse fazer o que não fez antes que morresse, voltar no tempo, voltar a seguí-lo, uma nova chance... pedir-lhe perdão, mesmo que não o mereça. E, então, do barco você vê, na orla, seu amigo e mestre, mostrando-lhes onde deveriam lançar a rede para conseguirem peixes e, junto à fogueira, convidando os seus para cearem juntos, e dentro de você a lembrança de tê-lo negado. Estava alí, oferecendo perdão. E naquela noite ninguém perguntou quem era, porque todos sabiam que era o Mestre. E agora sabiam porque Ele havia de morrer e que depois de alguns dias de dor, ele ressurgiu dos mortos.
Tu sabes te todas as coisas, Senhor. Tu sabes do meu amor por Ti.

João 21

domingo, 4 de novembro de 2012

Velhos de apenas vinte e seis

Costumava gostar de sentar e observar as pessoas que passavam. Gostava de observar a conversa dos seus. Admirar os sorrisos. Estudar suas expressões. Ficava calada, mas gostava daquela bagunça. Da música ao fundo, dos garotos discutindo regras de um jogo qualquer. Das meninas rindo alto de alguma piada sem graça.
Mas, agora, lá, sentada sozinha.
Sentia-se incomodada. Esforçava-se para ficar. Desgastava-se tentando sorrir. E, quando desconcentrava, lá estava, cabisbaixa de novo. Não gostava daquela bagunça. As pessoas sequer lhe dirigiam uma palavra. Detestava aqueles risos altos para chamar atenção de quem passasse por perto.
Envelhecera depressa.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Fez-se chamas


Esse é apenas mais um que foi digitado, apagado, redigido, impresso, amassado e reescrito tantas vezes que se perde as contas. Mas depois a mente se cansa de disfarçar, os dedos param de desobedecer e então as palavras saem. E fluem. E dizem o que há tempos tentava. E aí lê, relê, respira fundo e sorri. Põe num envelope, escreve à mão o destinatário. E, à caminho do correio, o faz se consumir em fogo. E jamais alguém lerá tais palavras.

sábado, 27 de outubro de 2012


Sabe quando ás vezes estamos distraídos ou pensando um pouco na vida e ficamos a rabiscar qualquer coisa, uns desenhos num livro, umas palavras num caderno, ou simplesmente alguns riscos na areia? (...)
Uma mulher quando por amor, ou prazer, momentâneo, passageiro se viu acusada e humilhada por pessoas que se cometiam erros assim como ela. Mas quem somos nós para merecermos defesa? E então, de repente, ela encontra-se diante do verdadeiro amor e da verdadeira justiça, que não a condenou, mas a livrou da morte. E mesmo quando conseguimos ficar mais sujos do que já somos e estamos diante dele, percebemos tamanha misericórdia. O mesmo que nos constrangeu com tanto amor naquela cruz, mesmo não merecendo; o justo pelo injusto, o santo pelo pecador, que livrou-nos da morte e nos fez renascer. E, naquele dia, nenhuma pedra foi lançada.
Quem diria que um risco na areia seria o início de uma nova história de amor...

João 8

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

E como eu não lembraria? Como esquecer dessas coisas, mesmo das que não quero lembrar? Mesmo que os mundos tenham parado de se cruzar... E como decidir-se sem antes pensar e relembrar de tudo?  Antes fosse simples... Irônico e triste. Mudamos tanto que, quando nos encontrarmos e conversarmos, corremos o risco de não nos conhecermos mais e aí teríamos de nos (re)conhecermos novamente, e talvez encontremos um alguém com quem não nos identificamos mais.
Eu nem estava percebendo o quanto eu precisava falar sobre aquilo até começar essa conversa com você.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Nem um parágrafo sequer

Estou tão congestionada de mim mesmo que preciso derramar-me para caber mais em mim. Sequer sei porque tantas lágrimas encharcando as letras, quisera eu que elas adiantassem, que derramassem um tanto da confusão; só trazem mais. Depois de tanto guardá-las, preciso, uma hora aguar minhas palavras para que transformem-se em textos, então elas vem, sem eu mais lembrar o porquê e, assim, escrevo.
Mas tampouco é que não consigo um só parágrafo. Alguns períodos e pronto. Nada satisfatório. Quisera eu conseguir escrever de tudo que preciso. Dos que não tenho, dos que tenho e...
Paro, amasso, recomeço. Sempre do mesmo canto. Recomeço não, continuo. Caso recomeçasse, estaria diferente. Melhor ou pior, mas diferente. Mas eu simplesmente olho para as folhas seguintes em branco e penso: eu não consigo. Assim (...) eu não consigo. Estou cansada desses tão superficiais! Por que cansa tanto importar-se com quem pouco importa... Canso-me de SER tão supérfluo. Preciso dos de verdade.
Preciso desembaralhar-me.
E quase todos os dias, quando vejo um daqueles que sinto tanta falta, imagino-me correndo ao encontro, abraçando e, sem dizer nada, molhar-lhe toda a roupa até que as lágrimas cessem. Ao invés disso, passam, entram, ignoram ou acenam e fico eu com a mesma imagem pro resto do dia.
Sei bem do que preciso, aprendi, do pior modo qual o Único que estará sempre comigo.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Eu que agradeço!

Mais um feliz acaso - mesmo achando que não seria isso que ele diria. São essas noites assim, de bobagens e nada pré-calculado que me arrancam sorrisos e lembranças, gosto delas. Fico inteiramente grata por minha mente saber separar muito bem os bons e maus momentos, e guardá-los bem distantes, um mais acessível e outro difícil de se achar. Pois bem, era ótimo ficar só com os bons.
Não era coração acelerado, nervosismo, mãos suadas. Era simplesmente saudade. Saudade das palavras, do modo como sou cativada sem perceber, das entrelinhas. Do sorriso. Do simples fato de poder contar. Mesmo que seja um aroma nostálgico, me faz bem, não confundo.
Parecia que o tempo havia mudado tudo e, ao mesmo tempo, deixado tudo o que deveria ter existido. Não sei porque agora, não sei por quanto tempo. Mas só de ter aquela certeza, mesmo que por pouco tempo, de que se pode contar com alguém, independente de qualquer outro acontecimento, é confortante. Eu gosto como o mundo dá voltas, principalmente quando coisas assim acontecem.
Não é reviver. É re-conhecer.
"Eu agradeço por ter conhecido pessoas como você."
"Obrigada pelos sorrisos arrancados."

quinta-feira, 12 de abril de 2012

"Não seria melhor descrever o tigre?"
"Muito na dele. Excêntrico. É meio esquisito, mas é bom companheiro."




Bill Watterson 

domingo, 8 de abril de 2012

Insípido

Incrivelmente cômico - para não dizer irônico - como essas coisas me ocorrem. Tenho em minhas mãos o mesmo bloco velho e desbotado em que registrei as primícias dos meus sentimentos relacionados ao que me fez vir aqui, folhas depois, expôr-me, transcrever-me, novamente.
Lindo como era concreto, poético, certo... Estranho como agora é triste e irresoluto. É espinhoso suportar até os meus próprios pensamentos. Vejo-me abstrata, escorregadia; os poucos que me fitam, franzem a testa sem compreender o que me ocorre, outros só correm os olhos. Tampouco importa-me isto. Importa-me permanecer assim, inerte. Importa-me não encontrar palavras nesse dicionário em branco.
Preocupa-me, ainda mais, por não afetar-me somente. Sendo só eu, somente só, choraria feliz. Mas não... Por que tenho de carregar outros na dor que me pertence? Ingrata que sou!
Detenho-me. Pouparei os dedos, o lápis, a folha. Espero que a próxima venha com sorrisos. Aproveitarei a vista.